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sexta-feira , 19 abril 2024
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Entrevista: Andréa Midori Simão, Diretora e Roteirista

Entrevista: Andréa Midori Simão, Diretora e Roteirista

Entrevista: Andréa Midori Simão, Diretora e Roteirista

 

Criar histórias, dar vida a personagens, emocionar, fazer rir, fazer chorar. Todas as histórias que assistimos no cinema, na TV ou na internet nascem ou são desenvolvidas pelos roteiristas. Conheça um pouco mais sobre a profissão na entrevista com a diretora e roteirista Andréa Midori Simão.

Andréa é formada em Audiovisual pela Universidade de São Paulo e tem especialização em Roteiro. É roteirista dos programas “Cocoricó” e “Deu Paula na TV” da TV Cultura, da série “Brilhante” da TV Brasil e da série “Desprogramados” do canal Multishow. Foi roteirista da série “Alice” e assistente de roteiro do filme “Terra Vermelha”, de Marcos Bechis. Colaborou nos longas “Nome Próprio”, de Murilo Salles e “Xingu” (2009), de Cao Hamburger. Também dirigiu e roteirizou curtas premiados, como “Tori” e “Obra Prima”. Além disso, é sócia da empresa Depto. Ficcional, onde desenvolve roteiros e presta consultoria para projetos audiovisuais.

 

Rede de Cursos – Muitos estudantes de Comunicação, em especial os de Rádio e TV e Cinema, sonham em seguir a carreira de roteirista. Você é jovem e conseguiu se firmar na profissão, escrevendo roteiros para séries de sucesso, como o Cocoricó. Como foi esse caminho? 

Andréa Midori Simão – Ainda me considero alguém que tenta um lugar ao sol no mercado, mesmo tendo me sustentado até aqui basicamente com roteiro. Mas o próprio fato de conseguir levar minha vida trabalhando com roteiro acho que surpreende algumas pessoas e, às vezes, até a mim. Penso que uma das coisas que me ajudou nisso tudo é o foco. Muitas pessoas ficam muitos anos depois de se formar tentando descobrir o que quer fazer na área do audiovisual e eu já tentava entrar neste mercado de roteiro desde que cursava Audiovisual na Eca. Fiz muito trabalho de roteiro de graça no início, trabalhei também com edição durante um tempo, mas sempre tentando me estabilizar na área de roteiro, estudando, fazendo cursos, mesmo depois de formada. Recusei trabalhos que poderiam me pagar razoavelmente bem, mas que me afastariam deste meu foco principal. Sempre que eu conseguia trabalhar com alguém com mais experiência que eu, tentava aprender ao máximo. Acho que foco e estudo foram então fatores importantes.

Rede de Cursos – Além de roteirista, você também foi diretora do curta Obra-Prima, prêmio de melhor filme na mostra Tiradentes. Como é escrever um roteiro sabendo que terá controle sobre a direção? 

 

Andréa – É igual, na verdade. Escrevo do mesmo jeito, como se outra pessoa fosse dirigir. E na hora de dirigir estou tão aberta a mudanças quanto se estivesse dirigindo um roteiro de outra pessoa. Se um ator sugere algo genial no diálogo, fica a sugestão e o dialogo escrito vai embora. Mas como parte do trabalho da direção é internalizar o roteiro, e essa fase já fica contemplada quando se está em processo de escrita, acho que tudo fica mais fácil. Ao mesmo tempo perceber que você escreveu uma cena que na prática não funciona tão bem, seu lado roteirista dói um pouco no set. Mas aprende também.

Rede de Cursos – Como é ver seu trabalho realizado e, às vezes, até modificado por um diretor? 

Andréa – É natural que o roteiro seja mudado pelo diretor. Detalhes, normalmente. E na maioria das vezes a mudança é para melhor. Mas se a estrutura for mexida na filmagem/gravação é porque alguém não está fazendo seu trabalho direito. E pode ser o roteirista. Não podemos, como roteiristas, ter apego a uma ideia. Porque ela pode ser mudada inclusive por outros roteiristas quando se participa de uma mesa de roteiros para escrever uma série, por exemplo.

Rede de Cursos – Você e dois sócios fundaram o “Departamento Ficcional”, onde desenvolvem roteiros e prestam consultoria para projetos audiovisuais. De onde veio essa ideia? 

Andréa – O Depto. Ficcional foi uma ideia que surgiu ao mesmo tempo na minha cabeça e na cabeça do meu marido – e sócio. Muitas vezes eu me via com muitos trabalhos ao mesmo tempo, muitos personagens habitando a minha cabeça, tomando café da manhã e banho comigo. E sentia falta de compartilhar esse trabalho com uma equipe. Acho que tudo que é discutido e feito em equipe fica melhor. Então meu marido costumava me ajudar muito, só que informalmente. Resolvemos então formar uma equipe de roteiristas para trabalhar em projetos juntos. Atualmente o Depto é formado por mim, Thiago Faelli e os assistentes Álvaro Zeini e Gabriel Jubé. Cuidamos de todos os projetos de forma conjunta.

Rede de Cursos – Você é professora da AIC e Faap. Como surgiu a oportunidade de dar aulas? 

Andréa – Eu sempre dei aulas, desde os 14 anos. Só que eram aulas particulares de matemática. Então, depois de formada, surgiu a oportunidade de eu dar aula em Aracaju. Fui e gostei da experiência, pois me fez estudar mais ainda e pensar sobre roteiro de uma maneira que eu nunca tinha feito antes. Criei um método próprio de pensar e fazer roteiros dando aulas, que me ajuda muito em meus trabalhos. Logo em seguida, há uns 3 anos, abriu uma vaga na AIC, me candidatei e dei aula de Roteiro Básico e Roteiro para TV ali durante muito tempo. Logo depois o coordenador da Pós em Roteiro da FAAP me ligou e me chamou para dar aula lá. Sou muito metódica e gosto de cuidar de cada uma das histórias de meus alunos. Dar aula é uma atividade que exige demais, mas dá uma grande satisfação ver um aluno que nunca escreveu um roteiro sentir a felicidade de escrever FIM numa história dele.

Rede de Cursos – Existe algum pré-requisito fundamental para quem deseja ser roteirista? 

Andréa – Não que seja pré-requisito, mas vejo que quem escreve sabe observar a vida. Observar o ser humano, principalmente, e pensar sobre as coisas. Porque uma história sempre é, no fundo, um pensamento sobre a vida.

Rede de Cursos – Apesar de existir demanda por bons profissionais, o mercado para roteiristas parece ser muito fechado. Como você vê a área para quem está começando agora? Dá para viver de roteiro no Brasil? 

Andréa – Dá pra viver de roteiro no Brasil, e cada vez mais isso será mais fácil e possível. Porque o vídeo está em todo o lugar, e a narrativa vai com ele. Fico entusiasmada pelo mercado, mas ao mesmo tempo, preocupada com as pessoas. A vida irreal (internet, cinema, vídeo) está tomando proporções tão gigantescas que já nos referenciamos nela para viver nossa vida real. E a cobra come o próprio rabo – isso acaba não sendo saudável nem para a própria narrativa.

 

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